segunda-feira, 15 de abril de 2013

Afinal, a cor da esperança é… amarelo!


BVB 09. Borrussia Dortmund. Veste amarelo. Está nas meias-finais da Liga dos Campeões. E todos nos lembramos, com certeza, de Paulo Sousa a jogar amarelo e a ser campeão europeu. O que muitos não conhecem é a história recente deste Clube, que me faz lembrar um outro de quem tanto gosto…

Entre finais do séc. XX e início do séc. XXI, o Borrussia Dortmund assumia uma política desportiva e financeira arriscada: investir fortemente no plantel profissional por forma garantir uma presença assídua e contínua na Liga dos Campeões. Ou seja, investir antes de obter resultados, resultados esses incertos a difíceis de obter sem uma gestão cautelosa e uma política desportiva mais abrangente, de longo prazo.

Os sucessivos insucessos desportivos levaram este Clube a uma difícil situação financeira, obrigando-o a vender o seu Estádio a um Fundo Imobiliário, em 2002. Com esse dinheiro, o Clube voltou a fazer investimentos fortes no plantel, sem resultados desportivos. Com uma gestão operacional deficitária – a venda do Estádio resultou em custos elevados – e um endividamento elevado, o Clube viu-se em enormes dificuldades em 2005, perto da bancarrota.

A verdade é que o sucesso desportivo não se compra. Por muito dinheiro que se tenha – e neste caso não se tinha – não é só pelo dinheiro que se vencem títulos.

Voltando ao Borrussia Dortmund, como saiu o Clube desta situação? 4 aspectos foram fundamentais.

1) Reestruturação Financeira

Desde 2005, o Clube levou a cabo uma reestruturação financeira, simples de idealizar, com certeza difícil de executar. Este processo conta-se facilmente em três passos:

Excelente entendimento inicial com os credores, que aceitaram diferir todos os pagamentos durante 2 anos (capital e juros), para além de disponibilizarem uma verba adicional que permitiu ao Clube pagar salários em atraso e manter os seus jogadores;

Seguidamente, um aumento de capital aumentando o equity da empresa de € 15 para € 61 Milhões;

Por fim, com a dívida renegociada e o clube capitalizado, procedeu-se a uma reestruturação de toda a dívida, com aumentos das maturidades e levantamento de mais dívida (€ 79 Milhões, através da Morgan Stanley), para recomprar o Estádio e substituir dívida de curto prazo. O alinhamento das maturidades da dívida com a geração de cash-flow foi fundamental.
                                 Fonte: The Swiss Ramble

2) Aposta na juventude

No plano desportivo, o Clube apostou definitivamente na juventude e na formação de jovens jogadores. Não mais se enveredou pelos avultados investimentos no plantel como forma de chegar ao sucesso e às vitórias. Mais tarde, em 2008, chega um treinador vencedor, vindo do Mainz 05 que corporizou uma nova filosofia de gestão desportiva e gestão de activos.

3) Publicidade e Patrocínios

Também em 2008, se não estou em erro, foi assinado um novo contrato com a Sportfive, por 12 anos, pelo valor de € 50 Milhões, dinheiro esse usado para reembolsar o empréstimo contraído 2 anos antes com a Morgan Stanley. Ou seja, em apenas 2 anos, o Clube consegue recomprar o Estádio, reduzir custos operacionais e dívida financeira. Dois anos!

Na realidade, mais de metade das receitas do Clube vêm das componentes comercial e marketing - publicidade nas camisolas e o naming do Estádio estão dentro do que foi conseguido com o acordo de 12 anos com a Sportfive.
                                   Fonte: Deloitte

4) Os sócios e Adeptos

Um Estádio sempre cheio. Um público entusiasta. Nunca abandonaram. Nunca desistiram. Foram eles os primeiros a salvar o Clube.

Um pequeno exemplo pode ser visto neste vídeo, no recente jogo com o Málaga.


Este processo faz-me lembrar, em tudo, o meu Sporting, o nosso Sporting. Em Novembro passado, apontava já este caminho para o nosso Clube no meu Manifesto. Foi este caminho que permitiu ao Borrussia Dortmund reduzir custos, aumentar receitas, reduzir amortizações e provisões com passes de jogadores. Um exemplo disso, a descida do peso dos salários nas receitas, de 63% em 2005 para 46% em 2010. Um caminho difícil mas de sucesso.
                                Fonte: The Swiss Ramble

Não tenho dúvidas que havemos de lá chegar. BVB 09 voltou a ser campeão. Nós voltaremos, com toda a certeza a repetir mais 100 anos de história, mais 100 anos de glória. Teremos uma nova Geração de Campeões!

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Nota: Toda a informação aqui descrita (e outra) pode ser consultada no site da Deloitte e no blog The Swiss Ramble.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

A razão e a emoção

Os últimos 2 dias têm representado para os Sportinguistas, um chorrilho de notícias, informação, muitas vezes má informação. As reacções são diversas mas a maior parte delas, compreensivelmente, são calorosas, emocionais.

O problema é que o assunto em causa - negociação com credores com vista a uma reestruturação financeira - deve ser tudo menos emocional. Negociar com credores com base em emoções, retira espírito crítico e de análise que se necessita nestas alturas.

O Presidente iniciou ontem a sua conferência de imprensa de forma clara: «Não sou um mero sócioSou presidente do Sporting e da SAD». Isto é muito importante e tentarei explicar porquê.

Várias vezes estive perante casos de boas empresas, bons negócios, com boa rentabilidade. Muitas empresas apesar de terem um negócio rentável, têm naturalmente necessidades de tesouraria que têm de ser colmatadas com recurso a crédito. A crise que vivemos tem colocado enormes entraves à vida de muitas empresas porque o crédito é escasso e muito caro. Muitas empresas têm mesmo de vender activos para se poderem financiar. O mercado, a economia estão assim, hoje em dia.

Vi também outros casos, mais complicados, de empresas com necessidades de tesouraria mas com prejuízos, crónicos ou não, na sua actividade. Estas necessitam de um outro tipo de assistência. Muitas delas, mesmo depois de uma negociação com os seus credores, faliram. Isto normalmente acontece quando são os credores a impor as condições e não existe uma atitude pró-activa e crítica da parte do devedor. Aceitam todas as condições e a prazo sentem as consequências.

Em qualquer negociação com credores, 2 aspectos são fundamentais: razoabilidade e paciência. É um jogo negocial, como qualquer outro em que ambas as partes tentam tirar o melhor resultado possível. Extremar posições implica conhecer muito bem as possíveis consequências.

No caso do Sporting, temos uma empresa com um enorme défice operacional, crónico por resolver. Em cima disso, existe uma pesadíssima dívida financeira. Piorando ainda mais as coisas, há necessidades de cobertura de tesouraria para os meses próximos, para além de não haver garantias adicionais que se possam dar aos credores.

Fechamos o semestre com um prejuízo operacional de - € 18 milhões, um buraco de tesouraria de - € 30 Milhões, colmatado por dívida, tendo esta aumentado € 30 Milhões. Ficamos ainda com um descoberto bancário de € 36 Milhões. As minhas previsões até final da época apontam para um prejuízo operacional muito próximo dos € 40 Milhões, obrigando assim à venda de activos, que deverão já estar dados como garantia de algum empréstimo. E isto, não esquecendo que não temos a totalidade da maior parte dos passes dos jogadores do plantel.

Mas isto em nada resolverá o problema. O esforço de consolidação operacional será megalómano. Prevejo que a SAD terá de baixar custos em mais de 50% para que se consiga atingir, pelo menos, um break-even. E precisará, sempre, de apoio de tesouraria. Provavelmente, cerca de € 30 Milhões até final da época, a acrescer o dinheiro necessário para contratações de jogadores, rescisões necessárias com vista à diminuição dos custos, e arranque da época 2013/2014.

Acreditem, é estar "encostado à parede". Nestes casos, para além de outras soluções, há umas preferenciais, de parte a parte: o credor há-de querer ou mais garantias, ou dinheiro; o devedor procurará realizar uma reestruturação mais ampla, tentará manter as garantias existentes, aumentando a dívida para cobrir necessidades de tesouraria e, se necessário, procurando um hair-cut. São duas posições claramente antagónicas onde se torna necessário procurar uma plataforma de entendimento.

Por isto é fundamental manter a razão muito acima da emoção. No caso do Sporting, não pode ser de outra forma. Entendo perfeitamente a reacção a quente do Presidente e de milhares de sócios e adeptos. Mexe com a nossa maior paixão e a tentação é bater com a porta, dar um murro na mesa. Mas temos todos de entender que a calma e a ponderação ajudarão muito mais do que a raiva e a paixão. Aqui, o papel de Carlos Godinho Vieira será fundamental.

Estou em crer que com calma, razoabilidade, paciência e muito, muito trabalho, conseguiremos alcançar a desejada reestruturação e consigamos atingir aquilo que ambiciono para o Sporting: mais 100 anos de história, mais 100 anos de glória, uma nova Geração de Campeões.

terça-feira, 2 de abril de 2013

A cadeira do Presidente

Ontem foi dia de jogo. Ganhámos 2-3 ao Braga, também ele de nome Sporting, num jogo com todos os condimentos para trazer ao de cima o nosso fervor sportinguista.

Para além do jogo e da vitória, um aspecto chamou-me a atenção que considero ainda mais importante que a própria vitória: o nosso Presidente sentou-se no banco de suplentes.

Já em Novembro passado, quando decidi escrever o manifesto "Quero o Sporting de Volta" e me envolvi mais profundamente nas "questões não-futebolísticas" do nosso Clube, dizia que era essencial termos um Presidente que se sentasse no banco de suplentes. Listei-a, aliás, como sendo logo a 1ª medida a tomar, essencial como forma de revitalizar a estrutura de futebol.

A medida, em si, é simbólica. É óbvio que ontem não ganhamos porque o Presidente se sentou no banco. É óbvio que não. Mas esta medida, esta acção, visível, marca claramente uma nova postura que se exige no Clube, postura essa que só vingará pelo exemplo dado, que terá obrigatoriamente de vir de cima.

A forma como o Presidente reage à vitória é outro sinal importante. Os jogadores estão descrentes, amorfos  até. Haver alguém que puxe por eles, pelo brio sportinguista, é fundamental. É um novo acordar. Acordem, ganhamos!

Agora, a equipa, os jogadores, o staff, sabem que t~em um Presidente presente, que está perto, que sabe o que se passa "lá em baixo". A tribuna que fique para outros pois esta é que é a cadeira do Presidente! Espero, sinceramente, que continue assim por bastante tempo.

De cadeira em cadeira, degrau a degrau, espero que este Presidente consiga atingir aquilo que ambiciono para o Sporting: mais 100 anos de história, mais 100 anos de glória, uma nova Geração de Campeões!