quinta-feira, 11 de abril de 2013

A razão e a emoção

Os últimos 2 dias têm representado para os Sportinguistas, um chorrilho de notícias, informação, muitas vezes má informação. As reacções são diversas mas a maior parte delas, compreensivelmente, são calorosas, emocionais.

O problema é que o assunto em causa - negociação com credores com vista a uma reestruturação financeira - deve ser tudo menos emocional. Negociar com credores com base em emoções, retira espírito crítico e de análise que se necessita nestas alturas.

O Presidente iniciou ontem a sua conferência de imprensa de forma clara: «Não sou um mero sócioSou presidente do Sporting e da SAD». Isto é muito importante e tentarei explicar porquê.

Várias vezes estive perante casos de boas empresas, bons negócios, com boa rentabilidade. Muitas empresas apesar de terem um negócio rentável, têm naturalmente necessidades de tesouraria que têm de ser colmatadas com recurso a crédito. A crise que vivemos tem colocado enormes entraves à vida de muitas empresas porque o crédito é escasso e muito caro. Muitas empresas têm mesmo de vender activos para se poderem financiar. O mercado, a economia estão assim, hoje em dia.

Vi também outros casos, mais complicados, de empresas com necessidades de tesouraria mas com prejuízos, crónicos ou não, na sua actividade. Estas necessitam de um outro tipo de assistência. Muitas delas, mesmo depois de uma negociação com os seus credores, faliram. Isto normalmente acontece quando são os credores a impor as condições e não existe uma atitude pró-activa e crítica da parte do devedor. Aceitam todas as condições e a prazo sentem as consequências.

Em qualquer negociação com credores, 2 aspectos são fundamentais: razoabilidade e paciência. É um jogo negocial, como qualquer outro em que ambas as partes tentam tirar o melhor resultado possível. Extremar posições implica conhecer muito bem as possíveis consequências.

No caso do Sporting, temos uma empresa com um enorme défice operacional, crónico por resolver. Em cima disso, existe uma pesadíssima dívida financeira. Piorando ainda mais as coisas, há necessidades de cobertura de tesouraria para os meses próximos, para além de não haver garantias adicionais que se possam dar aos credores.

Fechamos o semestre com um prejuízo operacional de - € 18 milhões, um buraco de tesouraria de - € 30 Milhões, colmatado por dívida, tendo esta aumentado € 30 Milhões. Ficamos ainda com um descoberto bancário de € 36 Milhões. As minhas previsões até final da época apontam para um prejuízo operacional muito próximo dos € 40 Milhões, obrigando assim à venda de activos, que deverão já estar dados como garantia de algum empréstimo. E isto, não esquecendo que não temos a totalidade da maior parte dos passes dos jogadores do plantel.

Mas isto em nada resolverá o problema. O esforço de consolidação operacional será megalómano. Prevejo que a SAD terá de baixar custos em mais de 50% para que se consiga atingir, pelo menos, um break-even. E precisará, sempre, de apoio de tesouraria. Provavelmente, cerca de € 30 Milhões até final da época, a acrescer o dinheiro necessário para contratações de jogadores, rescisões necessárias com vista à diminuição dos custos, e arranque da época 2013/2014.

Acreditem, é estar "encostado à parede". Nestes casos, para além de outras soluções, há umas preferenciais, de parte a parte: o credor há-de querer ou mais garantias, ou dinheiro; o devedor procurará realizar uma reestruturação mais ampla, tentará manter as garantias existentes, aumentando a dívida para cobrir necessidades de tesouraria e, se necessário, procurando um hair-cut. São duas posições claramente antagónicas onde se torna necessário procurar uma plataforma de entendimento.

Por isto é fundamental manter a razão muito acima da emoção. No caso do Sporting, não pode ser de outra forma. Entendo perfeitamente a reacção a quente do Presidente e de milhares de sócios e adeptos. Mexe com a nossa maior paixão e a tentação é bater com a porta, dar um murro na mesa. Mas temos todos de entender que a calma e a ponderação ajudarão muito mais do que a raiva e a paixão. Aqui, o papel de Carlos Godinho Vieira será fundamental.

Estou em crer que com calma, razoabilidade, paciência e muito, muito trabalho, conseguiremos alcançar a desejada reestruturação e consigamos atingir aquilo que ambiciono para o Sporting: mais 100 anos de história, mais 100 anos de glória, uma nova Geração de Campeões.

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