BVB 09. Borrussia Dortmund. Veste amarelo. Está nas
meias-finais da Liga dos Campeões. E todos nos lembramos, com certeza, de Paulo
Sousa a jogar amarelo e a ser campeão europeu. O que muitos não conhecem é a
história recente deste Clube, que me faz lembrar um outro de quem tanto gosto…
Entre finais do séc. XX e início do séc. XXI, o Borrussia
Dortmund assumia uma política desportiva e financeira arriscada: investir
fortemente no plantel profissional por forma garantir uma presença assídua e
contínua na Liga dos Campeões. Ou seja, investir antes de obter resultados,
resultados esses incertos a difíceis de obter sem uma gestão cautelosa e uma
política desportiva mais abrangente, de longo prazo.
Os sucessivos insucessos desportivos levaram este Clube a
uma difícil situação financeira, obrigando-o a vender o seu Estádio a um Fundo
Imobiliário, em 2002. Com esse dinheiro, o Clube voltou a fazer investimentos
fortes no plantel, sem resultados desportivos. Com uma gestão operacional
deficitária – a venda do Estádio resultou em custos elevados – e um endividamento
elevado, o Clube viu-se em enormes dificuldades em 2005, perto da bancarrota.
A verdade é que o sucesso desportivo não se compra. Por
muito dinheiro que se tenha – e neste caso não se tinha – não é só pelo
dinheiro que se vencem títulos.
Voltando ao Borrussia Dortmund, como saiu o Clube desta
situação? 4 aspectos foram fundamentais.
1) Reestruturação Financeira
Desde 2005, o Clube levou a cabo uma reestruturação
financeira, simples de idealizar, com certeza difícil de executar. Este
processo conta-se facilmente em três passos:
Excelente entendimento inicial com os credores,
que aceitaram diferir todos os pagamentos durante 2 anos (capital e juros),
para além de disponibilizarem uma verba adicional que permitiu ao Clube pagar
salários em atraso e manter os seus jogadores;
Seguidamente, um aumento de capital aumentando o
equity da empresa de € 15 para € 61 Milhões;
Por fim, com a dívida renegociada e o clube capitalizado,
procedeu-se a uma reestruturação de toda a dívida, com aumentos das maturidades
e levantamento de mais dívida (€ 79 Milhões, através da Morgan Stanley), para
recomprar o Estádio e substituir dívida de curto prazo. O alinhamento das
maturidades da dívida com a geração de cash-flow foi fundamental.
Fonte: The Swiss Ramble
2) Aposta na juventude
No plano desportivo, o Clube apostou definitivamente na
juventude e na formação de jovens jogadores. Não mais se enveredou pelos
avultados investimentos no plantel como forma de chegar ao sucesso e às vitórias. Mais tarde, em 2008, chega um treinador vencedor, vindo do
Mainz 05 que corporizou uma nova filosofia de gestão desportiva e gestão de
activos.
3) Publicidade e Patrocínios
Também em 2008, se não estou em erro, foi assinado um novo
contrato com a Sportfive, por 12 anos, pelo valor de € 50 Milhões, dinheiro
esse usado para reembolsar o empréstimo contraído 2 anos antes com a Morgan
Stanley. Ou seja, em apenas 2 anos, o Clube consegue recomprar o Estádio,
reduzir custos operacionais e dívida financeira. Dois anos!
Na realidade, mais de metade das receitas do Clube vêm das componentes comercial e marketing - publicidade nas camisolas e o naming do Estádio estão dentro do que foi conseguido com o acordo de 12 anos com a Sportfive.
Fonte: Deloitte
4) Os sócios e Adeptos
Um Estádio sempre cheio. Um público entusiasta. Nunca
abandonaram. Nunca desistiram. Foram eles os primeiros a salvar o Clube.
Um pequeno exemplo pode ser visto neste vídeo, no recente jogo com o Málaga.
Este processo faz-me lembrar, em tudo, o meu Sporting, o
nosso Sporting. Em Novembro passado, apontava já este caminho para o nosso
Clube no meu Manifesto. Foi este caminho que permitiu ao Borrussia Dortmund reduzir custos, aumentar receitas, reduzir amortizações e provisões com passes de jogadores. Um exemplo disso, a descida do peso dos salários nas receitas, de 63% em 2005 para 46% em 2010. Um caminho difícil mas de sucesso.
Fonte: The Swiss Ramble
Não tenho dúvidas que havemos de lá chegar. BVB 09 voltou a
ser campeão. Nós voltaremos, com toda a certeza a repetir mais 100 anos de história,
mais 100 anos de glória. Teremos uma nova Geração de Campeões!
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Nota: Toda a informação aqui descrita (e outra) pode ser consultada no site da Deloitte e no blog The Swiss Ramble.